Texto retirado do Blog de Waldson Gutierres (Antigão),
grande exemplo para nós amantes do pedal e do cicloturismo.
BREVE SOLILÓQUIO NO JARDIM DAS TULHERIAS
O que quer este menino a andar de bicicleta,
senão lembrar-me do que fui? Senão, tonto de
[ riso,
entre pombos e pardais no chão ensolarado,
entre pombos e pardais no chão ensolarado,
[ fingir-me?
Não aceito o ter sido. Nem me quero menor
no coração que guardou o assombro e a fábula
de tudo o que viveu como um sonho escondido.
Os dias me cobraram o que era infinito.
E, se agora persigo o pedalar do menino,
é porque sei que sou o final do seu riso.
De "Poemas dos Cinqüenta Anos"
Autor: Alberto da Costa e Silva.
Comecei o texto com uma poesia, porque não deixa de ser poético pedalar aos sessenta anos.
É poético saber que enquanto os anos vão se somando a gente vai se sentindo mais próximo das coisas mais simples e prazerosas da vida.
Um dia eu li que "Ficar velho é obrigatório, crescer é opcional".
Pode-se dizer que passei uma boa parte da minha vida correndo atrás de coisas que eu não precisava. Talvez naquela época eu só quisesse mostrar que eu podia, que eu tinha, que eu era capaz.
Hoje sei que estava enganado, que viver é muito mais simples e mais poético. Pedalar é simples, por isso eu gosto.
Pedalar é atravessar os campos, as cidades, conhecer novas pessoas, rir ou chorar com elas. Pedalar é parar para admirar uma flor e poder fotografá-la. Pedalar é olhar através das montanhas e sentir a incomensurável obra do Criador, é andar na areia da praia, sem receios, sem mistérios, desprovido do mau humor que ás vezes nos acomete.
Aos sessenta anos, muitas vezes quando parecemos olhar distante estamos enxergando por dentro de nós, como num grande espelho. Enxergamos os nossos sonhos. Sim, é preciso ter um sonho mesmo aos sessenta anos! Quando você para de sonhar, você invariavelmente morre. Infelizmente há tantos mortos-vivos por aí!...
Fico pensando... se eu não pedalasse, o que seria de mim hoje? Ah, não consigo e nem quero imaginar! Pegar a minha bicicleta e sair por ai me deixa muito feliz.
Quero continuar absorvendo os doces aromas das estradinhas vicinais, o cheiro do gado, das frutas e do mel. Prefiro observar as chaminés fumegantes das casas simples de sítios e fazendas, exalando aquele cheiro inconfundível de hora de almoço ou de jantar, nem que para isso as minhas pernas tenham que doer um pouco, que eu tenha que por pano molhado na cabeça, sob o sol escaldante. Pensando bem, quando estou pedalando até o cheiro do asfalto me faz bem.
Já tenho sessenta, portanto não preciso mais correr atrás do tempo. Quero curtir a liberdade, quero apenas sentir o ar fresco das manhãs vindo de encontro ao meu rosto, enquanto eu pedalo suavemente, sorrindo, sonhando vivíssimo com o amanhã. Quero continuar agradecendo ao meu Criador pela oportunidade de ser feliz. Quero continuar a ser aquele menino que pedala pelas ruas ensolaradas afugentando pombos e pardais. Afinal, eu só tenho sessenta anos.
Antigão.
Obrigado Grande Waldson, por ter autorizado a reprodução do seu texto, desejo muitos e muitos anos e km's de pedal para esse menino, que nos trás felicidade e nos emociona com belos relatos.
Grande abraço e até +
Grande abraço e até +
Não tenho como agradecer as amizades que a bike me trouxe. Evidente que você, Vini, é com certeza parte delas!
ResponderExcluirGrande abraço amigo! Deus seja contigo!
Waldson (Antigão)